domingo, 28 de março de 2010

Pilares de areia

O amor não é se envolver com a pessoa perfeita, aquelas do nossos sonhos. Não existem príncipes, nem princesas. Existem pessoas que querem encontrar alguém e crescer mutuamente. Encarando o companheiro de forma sincera e real, mostrando suas qualidades, mas sabendo de seus defeitos. Puro é, o Amor, quando, em sua concepção real, encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.
Não adianta reclamar de frustrações ou relacionamentos mal resolvidos. Realmente, sei que não é fácil passar pelas situações turbulentas que vêm. A vida é uma grande tempestade. Mas, pelo menos, se tem alguém pra dividir as lágrimas e aqueles que nem isso tem? Acredite, se já é difícil, com alguém, vencer, imagine sozinho?
Até por que, são elas tantas vezes ignoradas que fortalecem a areia na construção dos nossos pilares diários. Aposto que, sem eles, muitos já teriam desmoronados no primeiro terremoto.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Fatias

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 25 de março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Comum e normal

No caminho da volta para casa, uma senhora de cabelos bem branquinhos, em um tom de desabafado, ao terminar de contar sobre sua indignação ao ver pais que jogam meninas pela janela serem julgados só agora, soltou a seguinte frase:

— Ah, como pode? nem sei mais por quê ainda me preocupo com isso.
Hoje em dia é tão normal.

Pera aí! ISSO É TUDO, MENOS NORMAL. Não invertam os significados das palavras por favor. O mundo pode estar se afogando em mar de sangue, se afundando em índices de violência e se sufocando em tanta poluição que, ainda sim, esse tipo de atitude não será normal. Pode, por fim, se tornar comum, corriqueira e até mesmo cair no esquecimento como outras inúmeras catástrofes sociais — a exemplo das inúmeras bolsas de pobreza espalhadas pelo Brasil. Mas, a não ser que a sociedade guine 180º em seus princípios, ainda nos espantaremos com um assalto ou nos revoltaremos ao ver alguém que passa sede no agreste nordestino, enquanto nos tecnopolos do eixo Sul-Sudeste o tempo mínimo de banho é de trinta minutos.

Comum não quer dizer normal, quer dizer repetitivo.
A violência pode se tornar comum, mas nunca normal.

segunda-feira, 22 de março de 2010

22 de março

O desperdício mora no imediatismo, na superficialidade que as coisas rumaram com essa loucura chamada globalização. Não é só o fato de deixar a torneira aberta ou demorar no banho, essa é a ponta do Iceberg. Banir essas práticas tendo como desculpa diminuir o desperdício é bater na mesma estaca que os neo-malthusianos batiam, ou seja, destruir as consequências. O buraco é mais em baixo:
É pegar o ser humano, fazê-lo voltar ao pré-primário, e ensina-lo a importância que cada coisa tem e não só perceber isso depois que ela está em falta. Até porque, se continuar assim, a água vai acabar e vamos achar outra coisa pra destruir: florestas. Dinheiro. Ar. Energia. Tempo. Sentimentos. Vidas.

domingo, 21 de março de 2010

Bomba relógio

Já se provou que todos derivamos de uma única raça, já se adota a expressão condição sexual ao invés de opção sexual e até existem pesquisas mostrando que o universo é finito. Mas, desde que a humanidade se reconhece como tal, a intolerância se faz presente em, para não dizer todos, muitos momentos do cotidiano.
E não se precisa ir muito longe para achar provas, basta analisar nas escrituras sagradas a situação passada pela adultera que há quase dois mil anos, ao ser descoberta, quase foi apedrejada.
Seria diferente hoje? O terror narrado pela Folha de São Paulo na época do índio e da garota de programa que quase foram queimados vivos atestam que não. Na verdade, só mostram que a sociedade, mesmo passando por inúmeros avanços tecnológicos e descobrindo vacinas de uma série de doenças, ainda não descobriu uma para a intolerância.
Pelo simples fato de que não existe uma fórmula mágica para que ela desapareça, ela não vai se extinguir por decreto. Até porque, não foi moldada de uma hora para outra, pelo contrário, foi se consolidando através de exemplos que se arrastaram: a brincadeira sem graça com os colegas, a piada preconceituosa do pai aos amigos e até mesmo exemplos de uma sociedade que viveu a milhares de anos.
Enquanto a massa não for conscientizada e a educação só se basear em conceitos como teorema de Pitágoras ou normas conjugativas de verbos e ignorar a necessidade da implantação de conceitos que priorizem, por exemplo, a cultura ecumênica ou a convivência cidadã — diferente daquela em que se aprende apenas os direitos e deveres. Estaremos criando uma bomba-relógio, por hora desativada, mas com um forte poder destrutivo, caso alguém arranhe a crença de quem as possui.
Todos podemos olhar para nós mesmos e procurar o que existe de pior em nosso interior. Basta olhar para o espelho e procurar nossa intolerância diária: religiosa, política, profissional, esportiva, sexual etc. Curiosamente, talvez descubramos que somos todos intolerantes: basta que alguém arranhe alguma das nossas crenças.
(Adaptação do texto de Marco Antônio de Carvalho)

sábado, 20 de março de 2010

"Dois corpos não ocupam o mesmo lugar" já preconizava Newton. Mas esse conceito não se aplica apenas na física propriamente dita.
Um exemplo disso é o turbilhão de informação que os meios de comunicação impelem aos que os assistem: notícias, dados, análises e fofocas, que muitas vezes querem mesmo é desviar a atenção para assuntos banais e corriqueiros, encobrindo o que lhes, politicamente, convém. Fato que mostra como, em alguns aspectos, a sociedade não evoluiu o esperado, comparado à tempos remotos, onde se aplicava a política do pão e circo, iludindo a população, enquanto o Estado era administrado sem a supervisão pública.
Não que se deva subjugar a cultura de massa ou a importância do Carnaval e do futebol, mas é fundamental saber que enquanto os foliões estão pulando alegremente e os fiéis torcedores vibrando por seus times, o mundo, fora do sambódromo e dos estádios, continua acontecendo. E o pior de tudo isso é que ele acontece sem que as pessoas saibam.

Vale lembrar a análise do psicólogo britânico David Lewis, dizendo "informação não é sinonimo de resolução de problemas. Muitas vezes, vira até a causa deles. O excesso de notícias pode ser tão ruim quanto a ignorância, dificultando a tomada de decisões e levando a paralisia".

Cabe a nós, então, saber filtrar de maneira a analisar qual o tipo de informação é necessária para a formação dos futuros pais, professores, políticos e cidadãos. Caso contrário, a paralisia, citada por Lewis, não atingiria apenas um individuo, mas sim, incorporaria proporções maiores, como a estagnação de uma sociedade — e por que não uma nação? já que não haveria quem supervisionasse a administração do Estado, de novo.


sexta-feira, 19 de março de 2010

Para mim, que é o amor?

— Sabe que meu pai tinha um carro? e acho que isso tem muito a ver com amor. Acredite, tem sim! Pois é, em 1980, ele tinha um carro. Existia também uma menina, e todas as vezes que ele ia pegá-la para sairem, ele abria a porta do carrão, esperava ela entrar e, ao fechar, dava a volta no carro. Só que, antes dele chegar, ela se esticava até a porta do motorista e apertava o botão, trancando-o para fora.

Então ela ficava lá dentro fazendo caretas e os dois morriam de rir.

Para mim, isso é amor, ou um bom rascunho do que possa ser.

Adaptação: http://meadd.com/andr3h
Material: Banner de campanha radiofônia, incentivando a conscientização da população relacionada ao efeito estufa.
Chego ao ponto as 6:00 e o ônibus chega as 6:45, todos os dias. Quarenta e cinco minutos de espera:
— Por que chegar tão cedo?
— Por que chegar tão cedo?
— Por que chegar tão cedo?
As pessoas às pessoas com ar de indagação.

Cansei! pensei.

Resolvi, então, me render a maioria.
Durmi até tarde e saí despreocupado. Cheguei as 6:40.

O ônibus, nesse dia, tinha passado as 6:10.

terça-feira, 16 de março de 2010

Daltonismo

olhe de novo;
não existem brancos,
não existem amarelos,
não existem negros,
somos todos arco-íris.
(Ulisses Tavares)



E de onde surgiu todo esse ódio?

quarta-feira, 10 de março de 2010

Corrupção, desemprego, abismos sociais e educação precária. A ponta do Iceberg que representa um Brasil não voltado para a sua população não poderia encabeçar outros problemas senão esses. Enquanto projetos que melhorarão nossa imagem para o exterior como a Copa de 2014, as Olimpíadas de 2016 e a construção do trem bala começam a ganhar forma, aqui dentro a realidade é outra, em que a bala, por exemplo, é a que perfura nossa janela e estampa os noticiários.

Esperar paz de uma geração crescida na violência? loucura! milagres não existem quando se trata da formação de um carater, é um processo de semeadura. Cultivo. Colheita. O mesmo jovem que é tratado como um a estatística hoje, amanhã será o médico que operará seu coração ao auge dos seus 95. Acredite, a catarata vai chegar, problemas renais chegarão e, porque não, um câncer?
E quem será o responsável por indicar o tratamento? A mesma geração que tem como base influências de uma política apolitíca, um metodo de ensino ineficaz, uma inserção parcial no mercado de trabalho e gritantes problemas sociais, como falta de, por exemplo.

Chega a ser matemático.

O indivíduo, sendo o que for, engenheiro ou vendedor-de-sorvete-de-milho-na-praia. Enquanto houver defasagem nos exemplos, haverá defasagem nos seguidores desses exemplos.
Agora, um vendedor de sorvete de carater duvidoso, muitos conseguem aceitar. E o médico que vai operar seu coração? você consegue?

terça-feira, 9 de março de 2010

Saudade pautando os hojes,
que de tão presente quase posso tocar.
Tem cheiro de coisa nova,
e sim! tem vontades que ainda não sei se há.
Mas é que é estranho a tua não-presença ou a falta do seu andar,
tocando o sol do dó ré mi fá.
Acalmando as tardes quentes que só tendiam a piorar.

é exótico, charmoso e bipolar.
uma hora aí, outra lá. Mas meu bem se quiser,
vem pra cá! que nesse outro lado de mundo,
tem, por falta de uma, duas metades pra te completar.


domingo, 7 de março de 2010

Em inglês, francês, italiano, alemão ou até em calatão.

É dificil existir em algum idioma a tradução literal ou o verdadeiro sentido no qual "saudade" representa para a gente. Tudo bem, admito, nós brasileiros temos a mania de exagerar um pouco no tempero em tudo que fazemos, sentimos, vemos ou dizemos e que não há, por exemplo, um só nordestino que ao ser indagado "onde fica tal lugar?", não dê pelo menos umas trinta e sete sorridentes maneiras de chegar até lá.

Mas é que complica para qualquer ser humano explicar. Não é só assim, saudade por saudade. Isso é FALTA, o que talvez seja um dos componentes da formula, mas não ela inteira. E foi essa formula, que se resume em "falta=saudade", que os idiomas traduziram:

"Estou cada vez com mais saudade de você
/ I miss you more and more every day
"

– miss, segundo o Michaelis:
n
falha, erro. • vt+vi 1 errar, não acertar (o alvo). 2 não obter. 3 deixar escapar. 4 não notar. 5 não compreender. 6 omitir. give it a miss / omita-o, deixe-o de lado. 7 passar sem. 8 achar falta de. 9 malograr. to miss a chance perder uma chance. to miss a party perder uma festa. to miss out omitir, não incluir. to miss the boat perder uma oportunidade. to miss the bus perder o ônibus. to miss the meaning não entender o significado.


É exatamente isso? pra eles talvez sim.
Para nós talvez não. É como se estivessem faltando pelo menos duas icógnitas para essa equação funcionar. Não é só da falta que surge a saudade, senão seria teriamos uma saudade seca, momentânea, vazia. Ela não vem sozinha, geralmente (e quando digo isso, é por que pode variar infinitamente de indivíduo para indíviduo) está atrelada a inúmeros fatores (fat) e sentimentos (sent.): Amor e desprezo, amizade e distância, sorriso e vazio, lembrança e solidão, culpa e despedida... todos multiplicados pela falta que fazem. Tornando essa mistura de fatores, sentimentos e falta bem mais intensos que a abstnência pela abstnência.


Bem dizia Chico Buarque:
"Saudade é uma mãe arrumando o quarto do filho que já morreu"

sexta-feira, 5 de março de 2010

Na música, o próprio silêncio tem ritmo.

Claudio de Souza

Só pra abrir bem o fim de semana.

quinta-feira, 4 de março de 2010

“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer”.
Luís de Camões

Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação:

“Ah, Camões!, se vivesses hoje em dia,

tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos e

Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
consultavas a internet

descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!”

Com todo o respeito à figura enigmática e a influência no que diz respeito ao classicismo de Portugual que Camões representou, mas esse não deixa de ser um ponto de vista diferente e cômico, vamos combinar.

A vestibulanda ganhou nota DEZ, pela originalidade, pela estruturação dos versos, das rimas insinuantes e também, foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era apenas falta de sexo.