domingo, 27 de junho de 2010

Relicário

Corre a lua, porque longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por essa noite

Porque está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for


C. Eller e Nando Reis

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A falta: ou mata o amor por sofreguidão
ou o caleja contra a solidão, e, pra ser sincero,
não sei o que é pior, um coração morto de tanto
sangrar ou um que de tantos calos, não consiga mais amar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

É assim, e já não é mais.
A única coisa que permanece igual
é a mudança, inerte, perene e plácida.

domingo, 20 de junho de 2010

Retratos



Tirei uma foto, precisava imortalizar um momento,
enquadrar aquela vida, emolduraçar aqueles sorrisos,
e colocar na estante, de enfeite, aquele sentimento.

É bonito, troféu de outrotora,
ter vivido, ainda que de momento singular
histórias que não se repetirão,
mas estão aqui, no pódio das lembranças
pra guardar no escrivão.

Pena nada do que tenha sido registrado,
igual antes, tenha sobrado.
Os rostos são parecidos, as roupas também são
mas as pessoas deixaram de ser,
esqueceram quem ou que foram
e agora, nessa foto, mora o antigo,
o vazio das lembranças em vão.

O que sobrou?
a impressão
de que naquilo, a foto,
não sobrou mais que
a sensação:
— Nada mais é o que foi,
a unica coisa que permanece
é a mudança ou a solidão.

domingo, 13 de junho de 2010

Não gosto do frio nem do calor.
Gosto do cobertor que o frio me traz
e da piscina que o calor me pede.

São Paulo chove. São Paulo pára.

Eu, como frequentador passivo do transporte público da capital, posso, sem sombra de dúvidas, afirmar:

—São Paulo não sobrevive em meio aquoso.

E, convenhamos que não se precisa ser grande geólogo, físico ou político para listar fatores, encabeçados pela falta de infraestrutura em pontos estratégicos (lê-se desvio de verbas) e discrepância (entenda cinismo) daqueles que a governam, para que ela tenha chegado em tal situação. Ruas alagam, trânsito — antes já demorado — migra para um patamar caótico e, de forma forçada, a vida das pessoas é obrigada a parar, ora pra tentar salvar seus objetos, moveis, roupas, ora pra tentar salvar a própria vida e a daqueles que amam.