quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Velharia

Há palavras que escondem discursos nas mangas e até mesmo as que se demonstram superficiais, estão cheias de abismos dentre as rugas. Sim! são velhas e capciosas sendo muita vez trapaceiras, audazes. Portanto, se aprofundar na semântica é mergulhar em um penhasco codificado, traiçoeiro; da mesma maneira que cavar e ultrapassar a camada superficial da crosta terrestre ou se deixar afundar no oceano é abrir uma porta para o desconhecido.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dulcíssimo

O olhar tempera a expressão branda. E o sorriso me faz sutil. Os gestos, serenos e calmos, não demonstram qualquer cálculo ou ensaio. Mas dentro é diferente. Tá tudo mudado, ao avesso. É ácido, triste, é quente. Se me permitirem a metáfora, digo-lhes logo de cara que, apesar da externa simpatia e a maneira doce com que as palavras saem, meu recheio está azedo e podre.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sem parágrafo

Em linhas corridas, me faço em uma prosa sem pausa. Não quero ver os dias passarem, quero apenas que passem, como uma ou duas vírgulas, acentos e rimas fáceis de lembrar.

Esfregar para esquecer

Não posso apagar, sei. Está escrito, grafitado no muro. Mas esfrego, esfrego, esfrego na esperança de tornar mais opaco esse grito, mais surda essa dor. Se não calar, que ao menos berre só para mim, chega de ouvir o mundo ecoar esses problemas tão meus.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pequena Humanidade

Me desculpe Pessoa, mas também tenho uma pequena Humanidade dentro de mim. E apesar da democracia reinando por enquanto, as vezes alguns brigam por revolução. As vezes brigam por tomar o poder. Qual deles ser? qual lado ceder?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O zunido do Mundo

Várias vozes cochichando, pés raspando, folhas abrindo, águas batendo, chorando, chovendo num gemido compassado, como uma fábrica ou uma ópera, uma ópera sem regente, cada par com sua partitura partindo para a próxima parte, para o próximo ato.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Conta dos dias

Ele conta hoje dezenove dias para uma história nova começar e refaz as contas, para fugir dos planos, do que já não pode transformar. Nas verdades que ele quer, as suas fotos são mais coloridas e na distância, se vier, a vida passa como carros que vêm e vão; o que o faz parecer uma outra pessoa, em outro lugar.

Incerta, inconstante e inconsistente.

É a felicidade, mas as vezes ela se torna tátil.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Catraca

Façamos de conta que o mundo é um metrô e as ideias são as pessoas.
Aposto que estão me evitando, quando não, trocando de vagão.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dado

Pobreza é fazer da grama, cama; e no calor, da sombra, cobertor. No frio, do asfalto, um jogo de quarto esperando um dia sem dor. Um dia que de fato, a submissão à pobreza moral não seja seu maior fardo ao ponto de tratar a vida como um dado, sem saber se o jogo já acabou.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Selecionar > Caixa de Spam > Ok!

Pego todos, aqueles, sabe!? iguais ao mundo e as tendências do momento e jogo na minha caixa de spam.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Quanto tempo o tempo tem?

Tento não me repartir em horas ou minutos; é impossível que a idade do tempo só seja divisível por seis e não passe de dois ponteiro e algumas pilhas. Pelo contrário, é bem mais abrangente, incalculável, relativa e diferente para cada um. Ainda lembro, por exemplo, a rapidez cortante com que a notícia de um falecimento chegou e a infinidade de subir dois andares guardando-a no peito. Como isso doía, meu Deus, e demorava.