sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Quanto à dor

O pior de todos os gritos ainda é o sussurro. 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eu nasci para ser lar

A solução é amar, mais que o horizonte e o céu, o soluço e o ar, a mão e suar. Não nasci para ser um cômodo vazio, eu nasci para ser seu Lar.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O peso dos sonhos

Sabrina amava mais a vida que qualquer pessoa no mundo. Todos os dias, tingia a rua cinzenta da sua vizinhança com o traço vermelho do seu cabelo ruivo, como uma navália sangrando o asfalto preto. Bebia cada momento como água na bica em dia de futebol. Quando corria, seus passos eram tão carregados que assim que chegava em casa, sua mãe perguntava se carregava um exército nos ombros.
Mas não, não era isso, a verdade era que seus sonhos embarcava uma certeza quase que absoluta, sempre a acompanhando e pairando pesadamente em cada balançar de vestido. Viviam a espreita esperando para acontecer, como a fila para comprar o pão das 6, um presente esperando para ser aberto, um botão pronto para brotar.

domingo, 19 de agosto de 2012

Quanto à chegada

Felicidade é quando eu posso desabotoar o último botão do meu paletó sem desabotoar o meu sorriso.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Cabresto

Seu Joaquim quis ser homem rico, ser executivo com papéis para assinar. Largou a cerca meio podre, cheirando morte e enxofre das beleza ingrata do lar. Se aventurou na grande cidade, mas hoje sente saudade do ar do sertão. Arrumou um emprego descrente, sem prole, sem parente, para vender sorvete com apito na mão.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Presente

Todo mundo que já nasceu sabe e não mente. Gente não vem da cegonha, nem da alface, nem da semente. Gente vem da gente, vem do amor que a gente sente. Neném tem que esperar todo esperado, na barriga embrulhado, a vida de presente.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Chave

É uma briga e tanto quando as palavras se recusam a abandonar o campo das ideias. Olho para os móveis, procuro nas janelas e quase imploro para que a cadeira velha de quina para parede me dê alguma pista do que escrever. E nada. É como se as palavras estivessem e não estivessem lá, tudo isso ao mesmo tempo. Como se vivessem em estado de dormência, mornas na inércia em tingir o papel. Até desconfio que na maioria das vezes elas moram no que é exterior a mim, me evitando, desviando ou mudando de calçada como um vizinho bravo que insiste em virar a cara só para não dar bom dia.