segunda-feira, 31 de maio de 2010

Recado à aulas matinais

Sentada logo alí, me faz ouvir suas respostas de física.
E o riso bobo das comédias alheias do momento.
Sabe, até mesmo a raiva por errar química soa bem,
me chamando a atenção em para qualquer movimento.

Como não notá-la se seus traços são recheados de cálculos?
parecem ritmicamente planejados, montados.
Sendo até o pegar de uma borracha algo pensado
e o levantar, no intervalo, uma dança ensaiada.

E ela é assim.

Eu tento não olhar, não quero, não, quero sim,
mas não quero parecer suspeito,
não quero tirar a graça e a expontaniedade do seu sorriso,
quero que ainda ache graça na minha piada matinal
e que não se feche por achar que eu quero mais que o lápis emprestado
e a resposta de literatura da semana passada.

Quero continuar assim, na espreita.
Prefiro te sonhar do que tentar te ter
e perder a sutileza da expressão.
Prefiro te analisar de longe
do que te afastar de vez
ao te faze perceber que enquanto todos
querem só um esboço da sua companhia,
por te querer em arte final, sou eu, a excessão.

domingo, 16 de maio de 2010

Bem, esse é o começo - Capitulo I

— Ela é toda assim, toda.

E isso não é um exagero de linguagem. Se eu quisesse reduzí-la a uma palavra, completa seria o tiro certeiro. Ou vocês acham que Camila de Oliveira iria se contentar com algo que não fosse exatamente o limite da absoluta concretização de seus desejos? Sendo pra ela, uma canceriana de espírito e jornalista de nascimento, explorar o íntimo de cada coração apenas um início que, se depender de você, e só de você, poderia se transformar em um relacionamento eterno. Independente do que isso significar.
Eu, um exímio geminiano atrapalhado e distraído, a principio, não vi nenhum traço de conectividade entre nós, até por que, convenhamos, não tem mesmo como tirar lá muitas conclusões com apenas alguns minutos de, digamos, "convivência".

Mas, as conclusões começarem a aparecer e dentre as três meninas dividindo a mesma mesa, uma com o cabelo azul e outra cor de jambo, ela foi quem mais me chamou atenção. Não pelo seu estereótipo engraçado ou pelo sorriso delicioso de ouvir, mas por que alguma coisa nela me atraia. Talvez fossem nossos signos, talvez fosse o destino brincando de ser cupido ou, nenhum deles. O fato é que algo ia acontecer, e esse mesmo destino apaixonado, se tornaria irônico e, diria de passagem, traiçoeiro em alguns momentos.

Jonny César, o geminiano.

terça-feira, 11 de maio de 2010

As palavras e seus sentidos — A mobília

As palavras são ocas. Ora para emoldurar amores, ora para abrandar tragédias. Diria, então, se pudesse, que meu coração é uma grande sala cheia de jornais e retratos.

domingo, 2 de maio de 2010

Do que os poetas vivem.

O jornalista se faz do jornal,
do caderno de notícias
do sobe e desce da bolsa,
das crônicas da polícia.

O garçom vive das gorjetas,
dos jogos de quarta e seu placares
dos desabafos de quem tá na sarjeta
das rodas de mesa e dos sambas populares

Os bancários, do que rende no fim do mês,
do juro sobre juros acumulados,
do empréstimo do burguês
das contas do aposentado.

E os cantores? vivem da voz!
dos show de sexta no Canecão
do timbre que canta aos ouvidos
das notas que encantam o coração.

Os cozinheiros comem com o que cozinham
e cozinham para que outros possam comer.
O que seria de Camões sem um cozinheiro?
Um alguém faminto demais pra escrever.

Os arquitetos vivem de contas e desenhos,
desenhos que viram sonhos,
contas que viram concreto,
Nessa, o pedreiro pega carona
e do cimento, tira seu sustento.

E um poeta? do que vive?
Ninguém compra poesias.
Nem cartas de amor se tivesse,
mas não vou ser jornalista, banqueiro,
garçom, cantor ou cozinheiro.
Quero fazer palavras ao coração.
E mesmo que ninguém as entenda,
o tempo há de entender,
que um amor sem poesia é crime.
Que um sonho sem poetas
é impossível de acontecer.